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Reizinhos nas férias

Estudo indica que crianças têm poder sobre as decisões de viagem dos pais

Por Monica Nobrega
Atualização:
Geração alfa: poder sobre a viagem da família Foto: Adriana Moreira/Estadão

Renata e Rafael são desses viajantes que adoram uma grande cidade, principalmente se ela tiver jeitão de velho mundo – são mais Paris que Nova York, por exemplo. Em plena gravidez, inventaram de conhecer Seul. Quando a bebê Aurora estava com oito meses, passaram três semanas em Buenos Aires.

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Agora, planejando as próximas férias, em setembro, pensam pela primeira vez em um resort de praia no Nordeste. Consideram esta uma opção mais cômoda para a atual configuração familiar. Aurora estará com 2 anos e meio e já não é a única criança na casa: a caçula Iolanda estreará como turista aos oito meses.

Muitas mães e pais dos anos 10 são da geração millenial, gente que cresceu tendo a viagem como aspiração ou item habitual de consumo. Agora com filhos pequenos, esses (já não tão) jovens começam a adaptar suas perspectivas turísticas, em harmonia com suas próprias convicções sobre como educar crianças. Privilegiam a conversa e a participação.

Uma tendência que acaba de ser mapeada por um estudo encomendado pela plataforma global de viagens Expedia. A pesquisa Geração Alfa e as Tendências de Viagem em Família traz ao menos duas ótimas notícias para o setor econômico do turismo. Primeiro, mostra que as crianças nascidas a partir de 2010 (a tal geração alfa) estão sendo ensinadas a gostar de viajar: o assunto é abordado com muita frequência por 80% das famílias. Segundo, que essas crianças têm poder sobre as decisões de consumo de seus pais, com 43% dos adultos pesquisados afirmando que são influenciados pelos filhos pequenos nas escolhas turísticas.

O estudo foi feito entre 11 de abril e 7 de maio e, dado o recorte feito para compor a amostra, retrata uma população específica: a que tem capacidade de consumo e sabe comprar nos ambientes virtuais. Foram consultados 9.357 adultos de nove países, inclusive o Brasil (mais Austrália, Canadá, China, Alemanha, Japão, México, Reino Unido e Estados Unidos); que são pais ou avós de crianças de até 9 anos; e que compraram pelo menos uma viagem em meio virtuais nos últimos 12 meses.

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Há conclusões que podem ajudar os empresários do turismo a orientarem suas ações para o melhor atendimento às famílias. Conveniência é fundamental na decisão de viagem dos pais dos alfas. O meio de transporte preferido é o avião (54%), pela rapidez. Escolhem hospedagem pela localização (41%) e atendimento às necessidades familiares (39%). Hotéis e resorts (79%) são a opção preferencial; aluguéis de temporada receberam 16% das citações. Os destinos nacionais são percebidos como mais acessíveis e escolhidos por 68%.

Pela diversidade

O foco das viagens familiares, segundo a pesquisa, é restritivo. Os passeios e experiências preferidos nas viagens em família são parques temáticos (74%) e atividades na água (67%) em primeiro lugar; marcos históricos (44%) e museus (38%) ficam para o fim da fila. Será mesmo que criança só quer parque, praia e piscina?

Faço aqui a minha aposta: podemos ensiná-las a se interessar por mais que isso. Não se trata de deixar de lado o sonho de ir a Orlando, mas de também incluir no horizonte opções antes nunca imaginadas. Quer um exemplo? Meu filho ficou, sim, bravo de abandonar o futebol na praia com a (excelente) equipe de recreação do Itamambuca Eco Resort, em Ubatuba, para ir conhecer o Quilombo da Fazenda, um foco de luta pelo direito à terra e à cultura tradicional em Ubatuba. Ao chegar lá, no entanto, em pouco tempo estava integrado ao grupo de crianças da comunidade e foi com eles nadar no rio e pular da ponte. Voltou adorando tudo. 

Com duas bebês, Renata e Rafael estão certos de procurar o conforto de um resort. Daqui a poucos anos, com as meninas crescidinhas, poderão voltar a incluir as queridas cidades históricas da Europa no cardápio da família. Se os alfas são mesmo os reizinhos das nossas viagens, que tudo decidem ou influenciam, deveríamos encarar como missão o papel de ampliar suas referências e sua capacidade de se encantar pela diversidade do mundo. Do alto da montanha-russa e do alto da Torre Eiffel. 

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