Rivalidade na festa das cirandas

Com toques de Parintins e estrutura que lembra o carnaval carioca, disputa agita Manacapuru neste mês

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Por Niza Souza
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Apesar de ser a mais famosa, a rivalidade entre os bois Caprichoso e Garantido, em Parintins, não é a única que divide o Amazonas. Em Manacapuru, município a cem quilômetros de Manaus, três agremiações promovem uma disputa acirrada pelo título do Festival da Ciranda, realizado sempre no último fim de semana de agosto. Assim como na festa dos bois, as cores têm papel fundamental na cirandada e revelam de que lado você está. Na quadra da Ciranda Guerreiros do Murá, por exemplo, que dança vestida de vermelho, azul e branco, é proibido usar e até falar em lilás, a cor oficial da Flor Matizada. A terceira concorrente, a Ciranda Tradicional, desfila sempre com os tons vermelho, dourado e branco. O festival ficou tão importante que a cidade ganhou, há dez anos, uma arena para as apresentações, o Parque do Ingá. Apelidado de cirandódromo, o espaço tem capacidade para abrigar 30 mil pessoas. "Chegamos a receber mais de 50 mil visitantes na cidade nesta época do ano", diz o secretário de Turismo do município, Daniel Guedes. Para se ter idéia do que isso significa para a localidade, basta saber que Manacapuru tem 84 mil habitantes. "A ciranda é hoje uma das principais manifestações culturais do Amazonas. Só perde para Parintins", gaba-se Guedes. A cirandada surgiu quase por brincadeira durante os festivais juninos, bastante tradicionais no Norte do País, entre as escolas da cidade. Um ano, a Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré (hoje representada pela agremiação Flor Matizada), sob a coordenação dos professores José Silvestre e Perpétuo Socorro, resolveu inovar e inventou um bailado diferente, uma mistura de dança portuguesa e de roda, só que com mais ritmo, mais rápida. Naquele ano, a escola venceu a competição e as concorrentes resolveram imitá-la. Com o tempo, a disputa ficou tão importante que ganhou vida própria, ou melhor, seu próprio festival. As cirandas têm uma estrutura semelhante à das escolas de samba do Rio e de São Paulo. As agremiações contam com enredo, músicos, dançarinos e carros alegóricos, que ajudam a narrar o tema proposto. Já a apresentação pode ser comparada a uma peça teatral, com direito a alguns atos. Só que o enredo é contado nas letras das músicas, cantadas e dançadas na seqüência da história. Cada agremiação também tem uma quadra, onde ocorrem os ensaios. A preparação para fazer bonito no Parque do Ingá começa seis meses antes da festa. CARNAVALESCO O trabalho de definir o tema do ano fica a cargo do cirandista, espécie de carnavalesco. "A gente desenvolve o assunto e os músicos fazem a pesquisa para criar as letras da música, a cirandada em si", explica Lurden Clay Monteiro, responsável pela Guerreiros do Murá. Cada apresentação tem, em média, 13 canções e dura aproximadamente duas horas e meia. Cada escola conta com a participação de 500 integrantes. Para fugir da concorrência com a festa de Parintins, que ocorre em junho, o Festival da Ciranda, que chega a 12ª edição, é realizado em agosto. Neste ano, as apresentações serão de 29 a 31. PASSEIOS Para quem quer aproveitar e ficar alguns dias a mais na região, Manacapuru tem alguns pontos turísticos interessantes. Um passeio de barco pelo Rio Solimões, por exemplo, é uma experiência imperdível. Ver de perto como vivem os ribeirinhos que moram nos bairros isolados, em palafitas flutuantes, já compensa a viagem. Outra dica é visitar a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Piranha, que fica a 25 quilômetros da cidade. A região tem uma vegetação típica de várzea, com árvores gigantescas. A área está na rota de migração e reprodução de aves, além de ser boa opção para os que praticam pesca esportiva. Se ainda tiver tempo, informe-se sobre como chegar até a Ilha de Santo Afonso ou ao Balneário do Miriti. Viagem feita a convite da Companhia Têxtil Castanhal

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