Torres del Paine é um destino para amantes das trilhas e caminhadas. Então o primeiro desafio era saber o quanto eu aguentaria estando muitos quilos acima do peso e levando uma vida sedentária há alguns anos. No grupo de jornalistas viajantes estavam um maratonista, um fotógrafo em boa forma física e duas mulheres com pique de fazer inveja. E eu.
Logo de cara já tinha percebido que não conseguiria fazer a trilha para a base das três Torres, que dura o dia inteiro em nível difícil. Talvez até aguentasse, pois muitas vezes é a cabeça que dita o ritmo do esforço. Mas pensei que poderia me machucar caso não tomasse cuidado. Meu alívio foi que tinha à disposição outras opções de passeios.
Obviamente é para se lamentar não conseguir ir até a base das Torres. Meus colegas retornaram radiantes - e exaustos - da caminhada de 22 quilômetros. No entanto, nesse mesmo dia eu acabei fazendo dois passeios que me contemplaram e proporcionaram ótimos momentos.
Devagar e sempre
A caminhada bastante agradável foi pela Laguna Azul e Cañadón Macho. Nesse trajeto de aproximadamente 8 quilômetros, de nível baixo de dificuldade, o viajante percorre trilhas que passam por lugares de beleza ímpar. A todo momento dá vontade de tirar fotos, então cada parada para retomar o fôlego acaba sendo estratégica para ampliar o álbum da viagem.
Benedito de Toledo Junior, arquiteto de 57 anos, teve uma inflamação nas costas e parou de se exercitar antes de ir para Torres del Paine. Sua mulher Lucila, uma veterinária de animais silvestres, de 60 anos, tinha conhecido o Atacama, no norte do Chile, e quis desta vez ir para Torres del Paine. O casal então tratou de se aventurar pelas trilhas do parque e eles foram meus companheiros na empreitada. "Minhas pernas reclamaram, mas minha autoestima está alta", comentou Toledo.
Pinturas rupestres
Existem outras excursões pelo parque, como uma que leva até rochas com pinturas rupestres feitas pela tribo dos Aonikenk, índios nômades que viveram na região. É chamada de Trilha dos Caçadores e tem cerca de 8 quilômetros, que podem ser percorridos com calma e sem grande esforço - exceto na subida da montanha que leva às pinturas rupestres, de onde se tem uma visão bem bonita do vale.
E foi pelo caminho menos atlético que me aventurei por Torres del Paine, que oferece possibilidades diversas para além das grandes caminhadas em trilhas, como excursões de bicicleta, caiaque e até cavalo. A Estância Lazo recebe os turistas para uma cavalgada bucólica em um lindo bosque que culmina em um local de vista incrível. Uma outra excursão a cavalo, nas estepes de Baguales, requer uma experiência maior para a cavalgada.
"A gente tenta se adaptar ao máximo ao turista. Por isso criamos passeios exclusivos como Cornizas e as cavalgadas, que refletem ainda mais a cultura patagônica. E todos os anos pesquisamos, nossos guias também trazem ideias, para ver o que podemos oferecer como novidade", explica Constanza Leiva Arellano, diretora de marketing da rede Tierra Hotels.
A excursão para Cornizas, citada pela executiva, é um grande achado na Patagônia. São cerca de 3 quilômetros de caminhada para chegar ao topo de um morro em Cerro Guido (depois precisa voltar ou seguir em frente por mais alguns quilômetros). Do penhasco, o viajante tem uma vista impressionante do vale, com o maciço Paine à frente. A presença de enormes condores é constante, com seus balés nas correntes de ar.
Ao final de cada atividade, existe um momento de relaxamento que serve também para conversar sobre o passeio: os guias costumam montar uma mesa ao lado da van para o piquenique improvisado, com bebida gelada, incluindo cerveja local, e petiscos variados. É lá que você já começa a pensar na próxima caminhada.
Nível avançado
Quem vai em busca de trekking pesado, no entanto, encontra no Circuito W - o mais famoso do parque - seu principal desafio. O trajeto compreende 71 quilômetros e quatro dias de caminhada, passando por paisagens lindas, mas enfrentando frio e carregando na mochila itens de acampamento e alimentação. É preciso planejamento: o parque exige reserva para pernoitar nas áreas de acampamento, e a cada temporada pode haver mudanças na logística do circuito - vale sempre consultar o site do parque.