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Santiago: do alto dos cerros

"Chega o outono legalmente ou é uma estação clandestina?”

Por Edison Veiga
Atualização:
Mirante no alto do Cerro San Cristóbal, em Santiago. Foto: Edison Veiga/Estadão

Faltava Santiago, a capital do País. Foi a minha última parada na poética semana chilena. O outono estava presente na coloração das árvores, nas roupas das pessoas, no friozinho matinal e, principalmente, na linda tonalidade que o ar reservava para os dias. “Devo escolher esta manhã / entre o mar desnudo e o céu?”

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Opções gastronômicas têm se destacado em Santiago, cuja região metropolitana já soma quase 7 milhões de habitantes. Experimentei o estrelado Boragó (borago.cl), em Vitacura; confesso que esperava mais: ao contrário de outros restaurantes contemporâneos de ponta, como o brasileiro D.O.M., o finado dinamarquês Noma, o argentino El Baqueano e o russo White Rabbit, ali o conceitual parecia exageradamente sobreposto ao frugal, ao sabor. Fiquei com a impressão de que a forma, belíssima, não se adequava ao conteúdo; como um poema de pouco significado, uma armação de arame sem enchimento. “Para quem sorri o arroz / com infinitos dentes brancos?”

Por outro lado, a região de Lastarria era farta como o bairro paulistano de Pinheiros. Bastante movimentadas durante a noite, as ruas contam com barbearias hipsters, lojas de vinis, galerias de arte e muitos bares e restaurantes. Uma boa dica é o Bocanáriz (bocanariz.cl), com farta seleção de vinhos nacionais. Outro bairro interessante pelos comes e bebes é Bellavista, aos pés do Cerro San Cristóbal. 

É preciso reservar tempo, aliás, para os cerros. Principalmente o San Cristóbal, ao qual é possível subir de funicular, circular de teleférico e curtir a deslumbrante vista de Santiago, com parte dos Andes ao fundo. Mas também o Santa Lucía, mais central, mais simples, um pouco intimista até. “Como se combina com os pássaros / a tradução de seus idiomas? / E depois saudar o ar / com tantas flores e cores?”

“Amor, amor, aquele e aquela / se já não são, para onde se foram?” Em Santiago fica La Chascona, a casa que Neruda construiu em 1953 para Matilde, quando ele ainda era casado com sua segunda mulher – e o romance dos dois, portanto, escondia-se na clandestinidade. Depois da morte de Neruda, em 1973, a casa foi completamente vandalizada – ele fazia oposição ao regime ditatorial de Augusto Pinochet. Hoje, além de ser um museu como as outras duas residências, o endereço também abriga a sede da Fundação Neruda: fundacionneruda.org.

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