PUBLICIDADE

Sem palavras

Por RENATA REPS e KIEV
Atualização:

A chegada à Ucrânia marca a entrada em um mundo onde os hábitos e as pessoas nos são absolutamente exóticos. No horizonte, vários pontos dourados resplandecem sob a luz do sol: as cúpulas das igrejas cristãs ortodoxas, religião predominante no país, brilham ao longe até onde a vista alcança. Nas placas de sinalização das ruas, nos painéis de informação, um outro alfabeto, o cirílico, instrumento de comunicação do povo eslavo, irremediavelmente incompreensível para quem só teve contato com idiomas ocidentais.Nos rostos redondos e olhos claros dos habitantes, expressões que não nos são muito próximas: discrição, silêncio, semblantes sérios, poucos sorrisos - embora sua simplicidade e hospitalidade tenham um quê de América Latina. Nas estátuas erguidas em praças públicas, líderes dos movimentos comunista e socialista evidenciam um fato que será reconhecido a cada passeio despretensioso pelas cidades ucranianas: não faz tanto tempo assim, o mundo era dividido em dois. E os visitantes ocidentais ainda têm um conhecimento bastante restrito da Europa Oriental. Sabemos pouco também das peculiaridades de se viver ou estar por lá. O nacionalismo é expressivo em uma parcela da população (e alguns podem até ser um tanto hostis a estrangeiros), bem como a memória de um passado conturbado. Quase nada na Ucrânia será como você se habituou em viagens anteriores pela Europa. Nada de euros no horizonte: a moeda local é a impronunciável hryvnia, e são necessárias dez unidades para comprar um euro. A boa notícia é que você vai gastar muito menos do que está acostumado. Para comprar, não há muito além das ótimas vodcas e dos artesanatos multicoloridos. O outono começa antes no país, mais ou menos no início de setembro - e, em outubro, as temperaturas já chegam a marcas invernais. O terminal nacional do aeroporto de Kiev faz lembrar as nossas rodoviárias. Na capital, até é possível encontrar serviços e informações em inglês - facilidade mais rara na medida em que se desce ao sul, em direção à Crimeia. Criatividade. Este país tão pouco visitado pelos brasileiros tem uma cena cultural, quem diria, em plena ebulição. Em Kiev, murais e painéis pintados a céu aberto dividem espaço com as centenas de galerias de arte contemporânea, enquanto os parques são repletos de esculturas criadas por artistas locais.A Eurocopa, realizada em 2012, trouxe inúmeros progressos para o turista, como melhorias nos transportes aéreos e terrestres. Trens rápidos foram inaugurados entre as principais cidades ucranianas especialmente para o torneio. Os reflexos também foram sentidos na rede hoteleira - de acordo com a Embaixada da Ucrânia no Brasil, 70 novos hotéis e 16 mil acomodações foram inaugurados antes do torneio de futebol.A austeridade simpática que marca o país e seu povo me acompanhou durante uma semana, em uma viagem dividida em dois momentos: dois dias em Kiev e quatro na República Autônoma da Crimeia, Estado localizado no sul do país. O contraste entre a efervescência de Kiev e a serenidade do antigo território russo provou que a Ucrânia tem tantas nuances que apenas uma visita não dá conta de desbravar. Entre praias, memórias e as inevitáveis confusões idiomáticas, um país surpreendente.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.