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Todos os nomes em um

O cachorro Manolo Antônio e os nomes que refletem a cultura de um país

Por Bruna Toni
Atualização:

Manolo Antônio é um cachorro porto-riquenho que conheci por foto. Sua dona, Paula, também porto-riquenha, mostrou orgulhosa a imagem durante uma conversa sobre filhos num jantar. Um daqueles papos que temos com quem acabamos de conhecer. “Você tem filhos?” “Não, mas tenho um cachorro.”

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Não é que Paula trate Manolo Antônio como um humano, mas ele é seu companheiro, um ser de quem ela gosta muito. Tanto que fez o que a avó, devota de Santo Antônio, queria e deu ao cachorro um nome composto – o plano da avó era que todos os filhos, netos e bisnetos levassem de alguma forma o nome do santo. Pois, se Paula não vier a ter filhos, já cumpriu sua parte. E Manolo Antônio que carregue a tradição.

Um nome composto rebuscado assim, ainda mais em um perro, sempre provoca risos – lembramos das novelas mexicanas. Mas o que não falta no Brasil são nomes compostos. Maria, João, Ana e José parecem estar sempre prontos a se agarrar em nomes como Luiza, Pedro, Cristina, Carlos. Minha mãe, por exemplo, havia cismado em me batizar de Bruna Maria. Ela desistiu (era apenas uma questão de estilo) e eu confesso que, apesar de gostar de Maria, me sinto confortável com apenas um nome. Contudo, há outros motivos para se dar um nome composto a alguém (ou a um cachorro). A questão religiosa é talvez a mais fácil de notarmos. Famílias com cristãos, por exemplo, acabam se inspirando em nomes bíblicos, por homenagem ou promessa. Algo presente também em outras religiões mundo afora.

Mas, na Roma antiga, os nomes compostos serviam para designar o grupo ao qual um indivíduo pertencia – a gens chefiada por um pater – e a família dele dentro desse grupo. Júlio César, por exemplo, se chamava Júlio porque vinha da gens Júlia – ou seja, Júlio era seu gentílico. E chamava-se César como maneira de se distinguir de qual família dentro da gens ele era. E havia ainda seu primeiro nome, Caio. Primeiro, porém menos importante para a sociedade de sua época.

Chegamos a um Brasil cujo primeiro imperador, Pedro, carregava mais de dez nomes no sobrenome. Repetiu a dose com seu filho, Pedro II. E Isabel, filha desse segundo, somou mais sete nomes ao seu primeiro além dos Bourbon-Duas Sicílias e Bragança no final. Diz uma amiga carioca que é por isso que o Rio de Janeiro tem tanto nome composto com Pedro. Não sei se procede, mas se parei para pensar e todo Pedro Ivo que conheço é carioca. E não tenho dúvidas: se o cachorro de Patrícia fosse carioca, chamaria Pedro Manolo Antônio com orgulho. 

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