Trilhos dourados: um trem de luxo pelas ferrovias da Índia

No país marcado por contrastes sociais, pela história e pela fé, embarcamos para um roteiro desde o Triângulo Dourado – com direito ao Taj Mahal, claro – até a vibrante Mumbai

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Por Sofia Patsch
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Dançarinos recepcionam turistas na chegada do trem Deccan Odissey a Jaipur. Foto: Sofia Patsch/Estadão

Viajar de trem era um sonho antigo, que nasceu do fascínio por filmes que mostravam pessoas bem vestidas entre vagões, vendo a vida passar pelas janelas. Em março, meu marido e eu embarcamos para uma viagem sobre trilhos pela Índia, de Délhi a Mumbai, a bordo do luxuoso trem Deccan Odissey.

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A malha ferroviária indiana é uma das maiores do mundo, construída pelos britânicos durante a colonização. O trem é um meio de transporte muito comum no país – e, assim como o sistema de castas, é dividido em classes, da primeira à terceira. 

O trem de luxo no qual embarcamos faz seis rotas pelo país. Nosso roteiro teve duração de uma semana e passou pelo famoso circuito turístico conhecido como Triângulo Dourado, com Délhi, Agra e Jaipur nas pontas. Nele, pude ver e sentir as desigualdades que marcam a sociedade indiana. Enquanto apreciávamos um delicioso vinho no conforto de nossa suíte, víamos pela janela as mulheres que iam buscar água nas estações, crianças e animais passando com cargas, muita sujeira. Um cenário que transforma o trem de luxo em uma verdadeira bolha e me deu a certeza de que guardarei a experiência para sempre como um aprendizado. 

Dentro da bolha. Inspirado nas viagens dos aristocratas britânicos, o Deccan Odissey é um hotel cinco estrelas sobre trilhos. Nossa cabine ficava no vagão Bollywood. Era pequena, mas muito confortável, inclusive com água quente no banheiro. 

Tínhamos nosso próprio mordomo, Sanjay, que nos acordava cedo, às vezes às 5 horas da manhã, quando o passeio pedia. Ele estava sempre com um sorriso no rosto e café quente com bolachas na bandeja. No fim do dia, nos trazia uma taça de vinho tinto para relaxar. Também cuidava do que fosse necessário, como mandar as roupas sujas para a lavanderia e arrumar o quarto. 

O trem tem spa, com uma massagista tailandesa à disposição dos hóspedes, mediante pagamento à parte. Testei uma massagem relaxante e, mesmo com o balanço do trem, deu para ficar zen. Depois, fiz sauna. Ainda queria ter agendado pé e mão no salão de beleza, mas no dia a manicure estava de folga. O trem tem também uma pequena academia, com esteira, bicicleta e pesos, que não testei porque sempre preferia ir tomar vinho no vagão do bar.

As refeições eram feitas em dois restaurantes a bordo, um de comida tradicional indiana e outro de culinária continental. Ambos deliciosos. 

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A cada parada para um passeio, éramos recebidos com um colar de flores tradicionalmente feito pelas mulheres indianas como oferenda aos deuses. Também pintavam o bindi – o famoso terceiro olho – em cada um dos turistas e apresentavam danças regionais. Depois, era só entrar no ônibus, onde havia água filtrada e petiscos. No caminho, um guia explicava a atração e contava curiosidades. Ingressos e refeições fora do trem eram parte do pacote. 

Na noite de despedida, todos ganhamos roupas indianas, sáris para as mulheres e kurta pajamas para os homens. Assim vestidos, participamos de uma festa no vagão do bar. 

A Índia não é fácil para estrangeiros. Falta saneamento e infraestrutura. Sobram cultura, tradição, fé. Um lugar intrigante, que convida à reflexão e a enxergar para além do caos, com a alma, sem julgamentos. 

Em arenito vermelho, o Royal Gate é o portão principal para a grande estrela de Agra, o Taj Mahal. Foto: FERNANDO BEKES CAMARGO

Curiosidades

- A Índia é o país com a segunda maior população do mundo, atrás da China: mais de um bilhão de habitantes. Sozinho, o Estado de Uttar Pradesh, quinto mais populoso do planeta, tem o mesmo número de habitantes do Brasil

-  Mais de 70% da população vive em regiões agrícolas, muitas precárias. Mesmo assim, a economia da Índia deve chegar ao 5º lugar no mundo ainda este ano e ao 3º até 2032, segundo o Centro de Pesquisa de Economia e Negócios, uma consultoria de Londres

- Contra atentados, para entrar em restaurante, hotel ou atração, todos passam por detector de metal e scanner de bolsa

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- Hinduísmo é a fé de mais de 80% da população, seguido de islamismo, cristianismo e sikhismo

- Bandeiras sinalizam se os templos estão ativos ou não. Se não há uma, não se trata de um local sagrado

- Cidades terminadas em “pur” foram fundadas por hindus. A terminação “abad” indica origem muçulmana

- Só beba água filtrada e, se possível, lacrada. Leve um lenço para cobrir os braços dentro dos templos

Como fazer este roteiro

Aéreo: Emirates (desde R$ 4.253; emirates.com/br), Ethiopian (R$ 4.450; ethiopianairlines.com) e Turkish (R$ 6.496; turkishairlines.com) voam SP-Délhi-SP, com uma parada.Pacote: desde US$ 6.100 para uma pessoa, ou US$ 8.750, para duas; 7 noites, com refeições e passeios. Reserve em Deccan Odissey ou Cox&Kings.

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