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Turismo volta a Noronha: veja o que você precisa saber

Menos voos e menos viajantes vão deixar a ilha ainda mais preservada, mas preocupação com a covid-19 continua; confira as regras e protocolos

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Por Nathalia Molina
Atualização:

Viajar e ajudar a preservar Fernando de Noronha. Se você acreditava que estava fazendo isso ao pagar a taxa ambiental do destino pernambucano, saiba que a retomada, que começa hoje, chega com mais propostas e mudanças. Para combater o turismo de massa, serão menos voos e, consequentemente, viajantes. E para controlar a propagação do novo coronavírus, visitantes terão de apresentar teste PCR na chegada e fazer outro na saída ou após cinco dias de permanência.

Praia do Americano, em Fernando de Noronha: turistas precisam testar contra a covid-19 antes de desembarcar na ilha e antes de voltar ao continente Foto: Almir Ferreira/Estadão

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“Já que a pandemia passou uma régua no turismo, não podíamos perder a chance de arrumar a casa e fazer de fato um turismo sustentável”, afirma Guilherme Rocha, administrador de Fernando de Noronha, cargo ligado à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, que ele ocupa desde julho de 2018. “Fernando de Noronha só é o que é hoje por causa da preservação. Para cuidar desse patrimônio natural de todos, como foi declarado pela Unesco (em 2001), é preciso que a gente respeite as regras”, diz.

Baseado no estudo de capacidade da ilha, o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) de Fernando de Noronha, elaborado em 2017, estabelece o máximo de 89 mil visitantes anuais. Mas, segundo Rocha, há “brechas de interpretação que esticam para mais de 100 mil”. Ele diz que o fechamento da ilha por causa da pandemia trouxe problemas financeiros e sociais para a população, mas é preciso aproveitar esse momento de retomada para conter o excesso de visitantes. “A gente tem de fazer da crise uma oportunidade para regularizar o turismo, que estava descontrolado antes. Noronha não precisa de 150 mil turistas por ano. Com 89 mil, a gente já vai dar a resposta econômica necessária para a ilha.” 

Exigência de teste PCR para visitantes

Depois de receber viajantes que já haviam tido o novo coronavírus, autorizados a entrar em Noronha desde setembro, vem a etapa de abertura para todos. Inicialmente com sete voos semanais – em 2019, o destino chegou a registrar isso por dia na alta temporada –, o total de frequências aumenta a cada mês. “Todas as flexibilizações são gradativas para a gente ir avaliando dia a dia como a circulação do vírus vai se comportar na ilha. Por isso, o aumento tem de ser gradual e não começar com o total de 24 voos por semana”, explica o administrador.

O planejamento do retorno das atividades turísticas levou em conta dois aspectos: epidemiológico e ambiental. Uma série de protocolos já foi estabelecida para o funcionamento dos serviços da ilha, com o objetivo de preservar a saúde de turistas, trabalhadores e moradores. 

Portaria publicada no Diário Oficial do Estado de Pernambuco no início de outubro regulamenta a quantidade de voos com destino ao arquipélago. Em 10 de novembro, o limite sobe para 17 chegadas semanais; um mês depois, alcança o total máximo de 24. O texto também especifica que “haverá a possibilidade de realização de voos extras a partir do mês de novembro, respeitando o limite anual de entrada de visitantes estabelecido no Plano de Manejo da APA Fernando de Noronha de 2017”.

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Cartão-postal clássico de Fernando de Noronha: número de turistas ainda mais controlado Foto: Almir Ferreira/Estadão

Segundo Rocha, ao longo do ano todo, as empresas podem ter 100 voos a mais no total. “Fica a cargo da companhia aérea solicitar à administração da ilha. Mas não pode botar os 100 voos extras em um mês só”, afirma o administrador. Segundo ele, tem de ser respeitado o limite mensal de 7,4 mil turistas, para ficar dentro do total anual permitido. “O turismo descontrolado fortalece a informalidade, que é um dos problemas sociais hoje. A ilha impõe uma rígida lista de regras para que se abra um restaurante, uma pousada. Se você vai perdendo o controle, acontece o que a gente vê nos grandes centros urbanos do Brasil.”

Para você desfrutar de Noronha e colaborar com a preservação desse patrimônio natural, seguem sete dicas de como planejar e se comportar durante a viagem nessa retomada:

1. Programe-se 

“A temporada lá é alta ou altíssima. Não tem baixa”, afirma o administrador de Noronha. Os meses mais movimentados do ano vão de novembro a janeiro, mas julho também é forte para o turismo local. Quando Noronha atingir os 24 voos semanais, o limite por dia ficará assim: segunda, terça, quarta e sábado, até três frequências; quinta, sexta e domingo, quatro voos no máximo. Com menos lugares disponíveis para embarque, é fundamental planejar sua viagem o quanto antes, para garantir um assento e um preço mais em conta.

2. Pague a taxa ambiental online

Nada mudou em relação à cobrança da taxa de preservação ambiental por tempo de permanência do viajante em Noronha. Por exemplo, custa R$ 75,93 para um dia e R$ 373,59 para cinco. No site noronha.pe.gov.br, há o link para o formulário de pagamento.

3. Será preciso fazer o teste antes da chegada e na saída

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A partir de agora, quem ainda não teve sintomas de coronavírus tem de fazer o teste PCR na véspera do embarque e apresentá-lo na chegada à ilha – se o resultado não estiver disponível, uma pulseira é colocada no viajante, que espera pela confirmação em isolamento no lugar de hospedagem. Se o turista for ficar em Noronha por até cinco dias, antes de deixar o destino faz novo PCR em uma área especial do aeroporto. Essa segunda testagem é paga pelo governo de Pernambuco.

Visitantes que permanecerem por mais tempo na ilha devem procurar a Unidade da Saúde da Família (USF) para coletar seu exame no quinto dia de viagem. Turistas que já foram contaminados com covid-19 precisam apresentar teste que comprove que tiveram a doença: PCR com resultado obtido pelo menos 20 dias antes do embarque ou o teste sorológico feito no máximo 90 dias antes.

4. Faça download do aplicativo de controle da covid-19

O turista deve baixar o aplicativo Dycovid, que ajuda no controle e rastreamento da covid-19 em Fernando de Noronha. Os moradores também usam o app. Basta levar com você o celular com o bluetooth ligado, que o sistema identifica os lugares automaticamente. No teste após cinco dias no destino, se o visitante tiver um resultado positivo, todas as pessoas com que ele teve contato nos dias anteriores serão avisadas para que possam ficar em quarentena também.

5. Respeite os protocolos da ilha

O uso de máscara é obrigatório; o turista só pode tirar na praia para entrar no mar. Outra regra básica é manter o distanciamento de 1,5 metro entre pessoas – lembre-se disso quando estiver em filas, por exemplo, esperando o embarque para o passeio de barco. Hotéis, embarcações, locadoras de veículos e restaurantes precisam seguir recomendações para evitar a contaminação de visitantes e funcionários. Alguns requisitos servem para todos esses segmentos, como garantir de preferência a ventilação natural dos ambientes, fornecer água e sabão nos banheiros, deixar à disposição álcool 70% e higienizar de maneira intensiva objetos e superfícies de uso contínuo.

6. Dê preferência a quartos afastados uns dos outros

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Os protocolos para hotéis e pousadas incluem controlar o número de pessoas por acomodação, para evitar aglomerações de hóspedes. Propriedades com chalés, bangalôs ou apartamentos independentes podem funcionar com sua capacidade total, desde que não promovam concentração de pessoas no empreendimento. A limpeza e a assepsia dos quartos devem ser intensificadas. Na chegada, toda bagagem tem de ser sanitizada.

7. Reserve seu passeio de barco ainda no planejamento

Como os barcos só podem funcionar com 50% da sua capacidade, vale o mesmo raciocínio dos voos. Se você quer muito fazer um passeio ou mergulhar, é melhor já garantir a saída fazendo contato com a operadora local durante a fase de planejamento da viagem. No caso de mergulho, os protocolos obrigam as empresas a higienizar equipamentos como snorkel, máscaras e reguladores após o uso, com solução de hipoclorito de sódio 0,5% pelo período de 5 a 10 minutos. A embarcação tem de passar por limpeza ao fim de cada saída e todas as pessoas a bordo devem entrar sem calçados. 

3 PERGUNTAS PARA

Guilherme Rocha, administrador de Fernando de NoronhaPor que essa redução de voos não foi feita antes? A resistência vinha de que lado? Isso já estava posto. A dificuldade era cortar. A resistência vinha de todos os lados. Da população, que já estava acostumada a receber aquele número de turistas. Das companhias aéreas, que trabalham com um planejamento anual feito com mais tempo.

Diante dessas mudanças, cruzeiro em Noronha nunca mais? Nunca mais. A discussão é sobre a qualidade de vida das pessoas. Parodiando Caetano (na música O Quereres), onde queres cruzeiro, saneamento. Não tem de pensar em cruzeiros, naufrágios artificiais. É um pensamento imediatista que esquece do futuro.

O impacto de um desembarque de cruzeiro é muito grande? Nossa geração vive hoje problemas causados por erros cometidos no passado, mas a gente tem a oportunidade de consertar esses erros. Cada um tem de fazer seu papel para uma natureza preservada, um mundo melhor para os nossos filhos e netos. No início do ano, aprovamos os carros elétricos. A partir de 2022 não pode mais entrar veículo a combustão na ilha, e depois de 2030 não pode mais rodar. A energia da ilha infelizmente ainda é a combustão, mas já produzimos 15% com placas solares. A meta até 2030 é de geração de toda a energia limpa, seja solar ou eólica.

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