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Um dilema perigoso

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Por Redação
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Nosso sempre solerte viajante está, hoje, no Vaticano para a missa inaugural do papa Francisco, "o primeiro argentino que, humildemente, aceitou um cargo abaixo de Jesus Cristo". Embora nem sequer seja católico romano, mr. Miles, como se sabe, adora momentos de comoção internacional como são as primeiras aparições de um pontífice. "Besides, my friends, tenho uma amiga de infância, Sister Marj, que é camareira dos aposentos dos papas desde Pius Undecimus (Pio XI) e, embora muito discreta, conta-me ótimas histórias dos bastidores do Vaticano. Marj, thanks God, também me consegue assentos nas missas inaugurais." Outra revelação de nosso correspondente britânico: apesar do pouco dinheiro que lhe resta, uma parte dele é mantida em uma conta do Banco do Vaticano (IOR). "Just for fun, my friends: trata-se do único banco no planeta que envia extratos em latim e adoro ver em quanto andam meus debitum e meus promeritum." A seguir, a pergunta da semana:Mr. Miles, how are you? Tenho 30 anos e amo viajar: nem tenho carro, pois prefiro gastar meu dinheiro com viagens a ter de pagar IPVA, estacionamentos, combustível e seguros. Entretanto, estou sentindo uma vontade grande de comprar meu apartamento e possivelmente, para isso, terei que parar de viajar... Só de imaginar já me dá coceiras e fico em pânico. O que o senhor, que é mais experiente e vivido do que eu, me aconselharia a fazer? Devo parar de viajar e comprar meu canto ou devo aproveitar a juventude e cair no mundo? Regards. Marcella Abate, por e-mail"Well, my dear, seu caso é quase desesperador, I'm, afraid to say. Consultei os alfarrábios de meu saudoso amigo e psicanalista Nelson Montag e, se bem compreendi, você está com uma crise de identidade que pode levá-la a desenvolver dupla personalidade. Senão, vejamos: é possível inferir, de sua missiva, que as viagens têm sido o grande prazer de sua vida e, em nome delas, você decidiu abrir mão da possibilidade de adquirir um carro a longuíssimo prazo (no que fez muito bem) e está exposta às intempéries do transporte público no Brasil. That's amazing! Uma das principais características do bom viajante é o desapego. É a facilidade com que, for instance, vende uma joia de família ou um quase esquecido terreno na praia para poder aplacar a insaciável sede de conhecer o vasto mundo que habitamos, com seus povos apaixonantes.On the other hand, uma parte de você, my dear Marcella, parece seduzida pela ideia de comprar um apartamento. O que, by the way, não é um desejo incomum porque até mesmo os viajantes moram em algum lugar, ou, pelo menos, têm um endereço para guardar suas malas. A ferida dessa questão parece ser mesmo o dilema que sua alma dividida está lhe impondo. Aparentemente você não tem capital para comprar a casa própria e continuar viajando. A alegria que seu próprio apê lhe daria seria obnubilada por coceiras e, ainda pior, crises de pânico! Tente pensar de maneira oposta. Se você pensar em desistir do seu 'canto' e decidir continuar viajando, que sintomas advirão? Tremores? Terror noturno? Constipação? Ou nada disso. Well, se a resposta for 'nada disso', então o caso está resolvido. Keep traveling e dê adeus aos sintomas que a afligem. Afinal, de uma maneira ou de outra, sou obrigado a presumir que em algum lugar você reside, ainda que pagando aluguel ou favores aos seus pais. Continue, portanto, do jeito que sempre foi. Feliz em viajar, sem carro e sem apartamento. O tempo há de decidir essa questão sem pânico ou coceiras. E, believe me: sempre haverá novos lugares para conhecer e novos apartamentos para comprar."É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO.ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS

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