Um roteiro litorâneo, de São Paulo ao Paraná

Durante três dias a bordo de um catamarã, desbravamos as pequenas cidades e as ilhas com visitação controlada da região do Lagamar, estuário entre o sul de São Paulo e norte do Paraná

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Por Redação
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Praia no Parque Nacional do Superagui, na cidade paranaense de Guaraqueçaba. Foto: Aryane Cararo/Estadão

A chuva sobre as águas do mar, tão volumosa que interrompeu até o sinal de GPS do catamarã, acabava de dar trégua, enquanto mais um novo contorno de ilha se apresentava aos meus olhos. Não que a tempestade fosse motivo de preocupação: não falta experiência ao piloto João da Cunha. Assim, aguaceiro à parte, o clima era de silenciosa tranquilidade para observar a Baía de Paranaguá, onde estávamos no momento.

O catamarã Maratayama era nosso meio de transporte pelos litorais sul de São Paulo e norte do Paraná. Uma viagem pela região do Lagamar, estuário (ou braço de mar) que começa na cidade paulista de Iguape e se estende até o Parque Estadual do Superagui, na paranaense Guaraqueçaba. Trata-se da maior área contínua de Mata Atlântica do País. Ainda pouco lembrada turisticamente, a região está na mira da Serra Verde Express, empresa que opera trens turísticos e, em parceria com a prefeitura de Ilha Comprida, quer vender passeios que combinam trechos pelos trilhos e outros pelo mar. 

As primeiras viagens, feitas no ano passado, partiram de Curitiba e de Ilha Comprida, com duração de três dias. Ainda não há previsão de novas saídas – há entraves burocráticos a serem desenrolados. O que não chega a ser um impedimento para conhecer a região. A própria Serra Verde vende pacotes para algumas das cidades do Lagamar (veja em serraverdeexpress.com.br) e o catamarã Maratayama também tem os seus roteiros (leia nesta página). Também é possível se deslocar entre as cidades por estradas e barcos, como você confere a seguir. 

Espetáculo. Nosso trajeto começou em Ilha Comprida, cidade a 210 quilômetros da capital paulista. De lá, partimos a bordo do catamarã em direção ao Paraná, passando por Cananeia, Ilha do Cardoso, Antonina, Morretes e Ilha do Mel, até chegar a Guaraqueçaba. No caminho, praias de areias lisas e águas turvas, vegetação de restinga, manguezais, dunas (sim, dunas em pleno Estado de São Paulo) e quase 200 pontos de sambaquis catalogados. 

Isso sem falar no espetáculo de ver, sem esforço, botos indo e vindo, emergindo e mergulhando de novo, como se quisessem mesmo ser aplaudidos.

Eles são, de fato, a principal promessa dos guias e a mais aguardada atração da viagem. Mas espere até ver a primeira revoada de alguma das 400 espécies de aves que circulam pela região, entre elas o guará, para se sentir dividido entre o céu e o mar.

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“O cara fica um ano todo na Europa para ver um pássaro. Se ele fica aqui (no Lagamar) duas semanas, ele consegue ver todos”, brinca Rafael Xavier, monitor ambiental de Ilha Comprida há 16 anos e responsável pela parte educativa do passeio de catamarã pelo estuário. A observação de aves por ali é tão atraente que Rafael chegou a fazer um curso sobre o tema. 

Outros moradores, pesquisadores e monitores ambientais têm tentado agir para ajudar a manter a fauna e flora de uma Mata Atlântica que resiste à especulação imobiliária, como nas Ilhas do Mel e do Cardoso, e ao impacto resultante da atividade econômica baseada em pesca e no porto de Paranaguá. Do lado turístico, pelo jeito, a preocupação parece ser a mesma. O estuário agradece. 

O catamarã. A bordo do catamarã Maratayama é possível fazer passeios de um ou dois dias pela área do Lagamar. E nem é preciso ter muita sorte para avistar botos atravessando o caminho e uma infinidade de pássaros pintando o céu – só em Ilha Comprida, são cerca de 250 espécies segundo o monitor ambiental Rafael Xavier. Com capacidade para 76 passageiros, a embarcação deixa à disposição frutas, bolachas, café e água e tem ar condicionado. 

São três roteiros, todos saindo de Ilha Comprida. Para o Boqueirão Sul, dura um dia e sai desde R$ 120. Para a Ilha do Cardoso custa desde R$ 200 e também tem duração de um dia. Já para Guaraqueçaba são dois dias, desde R$ 370: visiteilhacomprida.com.br/catamara

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