PUBLICIDADE

Uma coleção muito inesperada

Nosso viajante, de conhecida paixão pela ornitologia, escreve-nos, nesta semana, desde a cidade de Lae, a segunda maior de Papua-Nova Guiné - um país formado por 850 tribos distintas e enormes áreas florestais intocadas. Mr. Miles, desta vez, foi à procura das célebres aves-do-paraíso que existem em profusão nessa grande ilha da Oceania. Encantado com o que viu em quase uma semana de caminhadas pelas florestas tropicais da região ("quase 20 espécies diferentes, can you believe?"), o incansável correspondente deste caderno respondeu à pergunta da semana: Mr. Miles: li, recentemente, que o senhor não gosta de ser chamado de colecionador de países. Entretanto, tendo a oportunidade de viajar tanto pelo mundo, existe algum tipo de coleção que o senhor faça?Guilherme Canhedo, por e-mail"Well, my friend, já houve tempo em que colecionei os souvenirs mais ridículos que encontrava. Desde um inexplicável elefante feito com a lava do Vulcão Etna, na Sicília, até um abridor de latas apoiado sob as fundações do Taj Mahal. Sem esquecer, of course, de um criativo relógio de cuco finlandês que, hora após hora, exibia uma rena balindo (ou seria mugindo? ou zurrando? sei lá). A inocência desses recuerdos, however, perdeu toda a sua graça quando os chineses passaram a fabricar praticamente todos os souvenirs existentes no mundo. Até as miniaturas do Big Ben, my God, são produzidas nas terras de Confúcio. Eis que, mais recentemente, passei a cultivar um bar com produtos inesperados. Um gim produzido no Congo, for instance. Ou vodcas de origem tropical, como a arriscada Empress Club, de procedência malaia, e a inesperada Ilhoska, de Ilhéus, na Bahia, cujo rótulo ostenta a fachada da Catedral de São Sebastião, imponente como uma basílica ortodoxa russa. Confesso que fui me divertindo com essas descobertas. Da Namíbia, por exemplo, trouxe curiosas garrafas de vinho colombard e ruby cabernet da marca Krystall Kellerei. Não sou um enófilo, mas senti um retrossabor de impalas nas uvas fermentadas entre as feras da região de Omaruru. Minha coleção também possui vinhos do Usbequistão que, por sinal, são muito agradáveis ao paladar. Guardo várias garrafas de Gulyankadoz em minha adega, especialmente das safras de 1978 e 1983. E até bebo-os, de vez em quando, experiência que só tive uma vez em minha vida com o whisky hindu Bagpiper. Apesar dos ganidos de advertência de minha mascote Trashie, ousei provar uma dose dessa infusão feita à base de melaço e fui acometido pela mais instantânea dor de cabeça de toda minha existência. Devo dizer, however, que o Bagpiper é o uísque preferido por nove entre dez artistas de Bollywood. Sanjay Butt e Shah Rukh Kahn, por exemplo, têm o hábito de bebê-lo cotidianamente. Unfortunately, o espaço dessa coluna é pequeno para descrever a quantidade de preciosidades que tenho neste peculiar depósito. Menciono que jamais provei o Arrak, um rum feito com arroz na Indonésia. E, apenas uma vez, provei uma colher de chá do CJ, o célebre rum liberiano que atinge 86 graus de porcentagem alcoólica. Reservo-me o direito de não mencionar o que aconteceu a seguir."

Por Mr. Miles
Atualização:

 

*Mr. Miles é o homem mais viajado do mundo. esteve em 132 países e 7 territórios ultramarinos

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.