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Uma experiência arrebatadora

Experimentar esse país de tantas idiossincrasias tem seus efeitos colaterais. Arrisque

Por Ana Carolina Sacoman
Atualização:

Cenas delicadas e singulares brotam aos montes da multidão. Uma estranha poesia feita de sons e cores se revela em pleno trânsito, para o qual o adjetivo caótico parece tímido. Uma inexplicável paz de espírito toma conta do viajante no meio da metrópole barulhenta e poluída. Eis a ''''experiência Índia'''', uma loucura para olhos e almas destreinados.   Veja também: » A vida em Jaipur, a cidade rosada » A simbiose entre Nova e Velha Délhi, das mulheres de sári e de calça jeans » Um passeio radical. A bordo de um riquixá » Taj Mahal, a escultura do amor eterno » Fé em alta voltagem em Varanasi » Muitas cores no reino da pechincha » Maioria segue o hinduísmo; 11% são muçulmanos » Na fachada do templo, o Kama Sutra » Cenas de um casamento às escuras      Poucos resistem a esse feitiço, esteja certo antes de embarcar. Tampouco há ceticismo que fique de pé diante da total falta de violência num lugar tão pobre - 24% dos 1,1 bilhão de habitantes vivem na miséria. Alguns, é verdade, detestam a viagem e prometem não voltar. Deixe-os para lá. Esse mundo novo, distante e revelador não é para qualquer um. Daqui em diante você começará a rever suas convicções. E prepare-se para o dia-a-dia. Ah, ele será diferente; os questionamentos vão aparecer a todo instante e até as tarefas mais comuns e mecânicas vão merecer uma revisão. Isso, claro, se você voltar. Há quem resolva ficar por lá mesmo, o que se transforma numa grande missão. Em todos os sentidos. É difícil entender as idiossincrasias indianas tanto quanto o hindi, língua falada por 70% dos habitantes do país. É complicado aceitar o carma como eles, que deixam a vida seguir seu curso, sem muita interferência, ou o casamento arranjado, ainda comum, principalmente no interior. É tarefa inglória tentar explicar por que aquelas pessoas de mil e uma crenças mexem tanto com você. Será porque o sorriso é mais gentil e honesto? Ou porque elas parecem tomadas por uma certeza superior que desse mundo nada se leva? Infelizmente, aqui, devo admitir: não há respostas. Ou melhor: há inúmeras, elas estarão dentro de você... Eldorado Já na chegada, em Mumbai - antiga Bombaim -, o choque é rápido, inevitável. A cidade, de 18 milhões de habitantes, é, ao mesmo tempo, suja e colorida; nova e gasta; imponente, rica e miserável. A cada dia, cerca de mil pessoas aportam em Mumbai em busca de oportunidades. É, para eles, o Eldorado, onde os negócios vão de vento em popa - a economia indiana cresceu 9,4% no ano passado. Pode ser, grosso modo, comparada a São Paulo - lá, no entanto, as crianças vendem livros e revistas nos semáforos. É também uma cidade moderna, vibrante. Ali, dizem os indianos, não há mais casamentos arranjados e as estrelas de Bollywood despertam a idolatria antes reservada aos três principais deuses hindus (brahma, shiva e vishnu), religião de 80% dos indianos. A primeira parada pode ser o Portão da Índia, construção iniciada em 1911, para a recepção do rei George V e da rainha Mary, ainda durante o domínio inglês. Os reis, no entanto, viram um monumento inacabado, pois o portão só foi finalizado em 1924. Dali também partiram as últimas tropas inglesas, quando a Índia conquistou a Independência, em 1947. Prepare-se: será apenas a primeira vez (de inúmeras) em que você se verá cercado por muitas pessoas, vendendo ou pedindo de tudo. Fique frio, você está aqui para se divertir. Se não quiser nada com os vendedores ou esmoladores, apenas ignore-os. Logo na frente do Portão da Índia está um dos prédios mais emblemáticos de Mumbai: o Hotel Taj Mahal, uma imponente construção que faz jus ao nome do mausoléu-monumento. O lugar tem uma história bem interessante: foi erguido em 1903, depois que o industrial Jamshedji Tata (hoje um dos sobrenomes mais influentes do país, dono de meia Índia) foi barrado no Watson''''s Hotel, que só aceitava estrangeiros (e brancos). Tata, então, mandou erguer essa pérola de domo vermelho às margens do Mar Arábico. Hoje, o Taj tem 565 quartos requintadíssimos, um dos restaurantes mais estrelados do país e diárias a partir de 14.750 rupias (cerca de R$ 709), para duas pessoas, em setembro - e o Watson''''s está em ruínas. Não muito longe dali fica a região conhecida como Kala Ghoda, alguns quarteirões que abrigam a efervescência cultural da cidade. Além da Universidade de Mumbai, há cafés, boas lojas e restaurantes. Mais adiante está a Estação Victoria, uma fina pérola deslocada no impossível trânsito local. De 1888, trata-se do maior e mais bem-acabado exemplo da arquitetura gótica na Índia. Hoje, esse patrimônio da Unesco recebe 2 milhões de passageiros por dia. Líder Da opulência vitoriana para a simplicidade absoluta. A visita à casa onde Mahatma Gandhi (1869-1948) se hospedava quando estava de passagem por Mumbai vale pelo mito. A residência foi transformada em museu. Lá está o quarto do líder, bem simples, usado durante rápidas visitas entre 1917 e 1934. Uma última parada em Mumbai pode ser o Dhobi Ghat, uma imensa lavanderia ao ar livre, onde vivem e trabalham 2 mil pessoas. A pobreza desses moradores - e dos vendedores que ficam por ali à espreita da turistada - pode chocar. Não se engane. Mais uma vez: você está na Índia e, lá, tudo é possível, até mesmo a felicidade habitar barracos que mal param em pé à beira de uma linha de trem. Taj Mahal Palace & Tower: www.tajhotels.com; tel.: (00--91-22) 6665-3366; Casa e Museu de Gandhi: 19 Laburnam Road. Entradas a 10 rupias (R$ 0,50) Viagem feita a convite da Raidho Turismo (www.raidho.com.br) e do Incredible India (http://www.incredibleindia.org/)   Oriente-se Idiomas: hindi, inglês e outras 14 línguas oficiais Moeda: Rupia indiana Câmbio: R$ 1 vale 20,80 rupias Fuso: 8h30 a mais que Brasília Embaixada em Délhi: 8 Aurangzeb Road; tel.: (00--91-11) 2301-7301 Visto: Necessário para brasileiros. Informações: (0--11) 3171-0340

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