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Uma Notre-Dame vietnamita em meio à lotação do cotidiano

Por Texto: Bruna Toni e Fotos: Daniel Teixeira
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Era sexta-feira à noite e a Praça da Comuna Parisiense, próxima à Catedral de Notre-Dame, borbulhava. Jovens disputavam cada centímetro do gramado com suas toalhas e garrafas servidas de chá e café. A calçada do entorno também era disputada: sobre ela, uma fileira de motos esperava os donos que aproveitavam o calor – alguns, devorando um prato de noodle (macarrão). Perto dali, cafeterias lotadas. Em todas elas, o cardápio é variado, os preços são modestos, a quantidade e a qualidade, prazerosas. Uma boa opção para turistas que, como nós, estavam desprevenidos e não levaram a própria bebida – só tenha em mente que poucos vendedores falam inglês.

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A vida noturna no centro, ou Distrito 1 – as regiões em Ho Chi Minh são divididas em 11 distritos –, costuma ser assim, movimentada até pelo menos as primeiras horas da madrugada. Grande parte do comércio fecha as portas depois das 22 horas, como os shopping centers, mas há sempre uma ou outra loja de conveniência aberta. Nada comparado, claro, ao movimento diurno. Basta reservar um dia para conhecer o Mercado Ben Thanh e você entenderá o que quero dizer. 

Como em qualquer mercado municipal, o movimento é intenso e a organização é o caos. Mas, no de Ho Chi Minh, tudo se mistura: nos mais de 3 mil quiosques apertados em corredores estreitos, estão à venda de roupas a carnes, de frutas a chás, de peixes a perfumes. Percorra o setor de presentes para encontrar uma versão em miniatura de Tintim em Saigon por 150 mil dongs (R$ 20), isqueiros com temas de guerra a 180 mil dongs (R$ 24) ou uma camiseta básica com a foice e o martelo estampados. 

A guia Lam alerta que tudo é mais caro por lá (sim, acredite), mas a qualidade compensa e, principalmente, todo valor pode ser negociado. É só dizer que não vai levar o produto para o vendedor, em inglês básico, tentar barganhar. O assédio pode incomodar um pouco, mas vai valer a pena se você estiver mesmo interessado em comprar. Por isso, procure ir sem pressa – o mercado funciona entre as 5h30 e as 17h30 todos os dias, mas as lojas de roupas e sapatos, por exemplo, abrem mais para o meio da manhã.

Do lado de fora, a confusão não é menor. Ambulantes tentam fazer dinheiro e as ruas são tomadas por ônibus de turismo chegando e partindo, pedestres e donos de motos vendendo aos turistas alguns minutos em cima de suas garupas. Vontade de descobrir Ho Chi Mihn pilotando ou sendo passageiro em uma dessas Vespas não faltará. Para não cair em roubadas, no entanto, o melhor é procurar uma agência. Uma volta de três horas e meia, com direito a uma bebida e parada para comer, sai por US$ 89 por pessoa na Vietravel (vietravel.com.vn).

Herança de Eiffel. O Correio Central é outro bom lugar para fazer umas comprinhas no centro e, ao mesmo tempo, conhecer um prédio histórico. Desenhado pelo francês Gustave Eiffel (sim, o mesmo da Torre Eiffel de Paris), foi erguido entre 1886 e 1891. Reformado recentemente, está conservadíssimo – e lotado diariamente desde a abertura, às 7 horas, até quando tranca as portas às 19 horas (18 horas às quartas-feiras). 

Há, claro, a movimentação dos moradores interessados no serviço de telegrama. Mas a maioria faz do espaço um novo mercado de souvenirs e poucos reparam no design. Não é para menos: são várias lojinhas que apostam em vendedoras vestidas com o ao dai, traje típico vietnamita, para atrair clientes. Caminhe até o fim dos corredores para encontrar o tradicional chapéu nón la em formato de cone desde 30 mil dongs ou (R$ 4), cartões-postais (80 mil dongs ou R$ 10), calendários (150 mil dongs ou R$ 20), miniaturas de motos (250 mil dongs ou R$ 33) e até trabalhadores sentados entre as mercadorias, almoçando o costumeiro noodle.

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Não é exagero chamar esse “pedaço de Saigon”, como diria Emílio Santiago, de afrancesado. Saindo do Correio, duas torres avermelhadas em estilo neogótico fazem esquecer por alguns minutos que seus pés estão no Sudeste Asiático e não em algum canto europeu cuja tradição medieval foi preservada. A Catedral de Notre-Dame quebra as expectativas de quem busca apenas o exótico. Tijolo por tijolo, telha por telha, todos trazidos da França no século 19, quando a igreja começou a ser construída. O espaço abrigou a minoria católica que se instalou na região e, hoje, é uma das mais importantes obras arquitetônicas do país predominantemente budista.

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