Uma questão de classe

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Por Redação
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Nosso insaciável viajante escreve-nos de Parma, cidade italiana na região da Emilia Romagna, aonde foi para comprar algumas peças do famoso presunto local e, claro, do verdadeiro queijo parmesão. Mr. Miles, que já comeu ótimos filés à parmegiana em restaurantes brasileiros lamenta informar, entretanto, que, apesar do nome, o prato é desconhecido em Parma. "Assim como em Cuba não existem filés à cubana", conclui. A seguir, a carta da semana: Prezado mr. Miles, fiz um cruzeiro pelo Rio Danúbio num barco com 75% de passageiros americanos e 25% de brasileiros. Fiquei decepcionado com o comportamento de alguns americanos. Descorteses, não pediam licença para passar, não respondiam cumprimentos. Glutões obesos, trajaram-se inadequadamente no jantar de gala. Com prepotência e arrogância referiam-se aos brasileiros como "aquela gente". Pergunto, mr. Miles: qual a razão de os americanos serem tão diferentes dos ingleses? Os ingleses sempre elegantes, corteses, prestativos e de bom humor. Mario Hamilton Casella, por e-mail"Well, my friend, essa sua mensagem soa-me como uma espécie de rancor explícito contra os norte-americanos. E, I'm sorry to say, não me parece muito confiável. A começar pela composição de passageiros do presumível cruzeiro.Uma embarcação do Danúbio com passageiros de apenas duas nacionalidades? Só se for uma convenção de uma empresa americana com filial no Brasil ou vice-versa. Unfortunately, seus compatriotas ainda não se tornaram suficientemente adeptos dos cruzeiros fluviais a ponto de ocupar 25% de uma dessas naves. Tenho certeza, however, que isso ocorrerá mais cedo ou mais tarde, porque jamais vi tantos brasileiros perambulando pelo mundo como nesses últimos dois anos. By the way, sinto um certo orgulho que isso esteja ocorrendo, já que, há muito tempo, tudo o que faço, humildemente, é sugerir aos meus queridos leitores que ampliem seus horizontes. O poder de compra de vosso real, of course, vale muito mais do que meus argumentos. Mas ainda assim tenho tido o prazer de encontrar alguns leitores nos aeroportos e fico muito feliz ao ser reconhecido.Voltando à sua missiva, devo lhe dizer que ela parece encharcada de fel. Veja os termos que você utiliza: descorteses, glutões obesos, prepotentes e arrogantes. In fact, existem muitas pessoas com essas características desagradáveis. Não é, contudo, a nacionalidade que os faz assim. Conheço cidadãos mal-educados de etnias diversas. Don't you agree?Se tudo fosse tão simples como sugere, bastava que as características de cada povo viessem estampadas no passaporte. For instance, americano: obeso, mal-educado, prepotente; francês: bom gourmet, monoglota, pouco amigo das duchas; italiano: fanfarrão, apaixonado e mau eleitor; brasileiro: consumista, generoso, não vive sem arroz e feijão. Etc, etc.Um defeito pior do que os mencionados em seu e-mail é a generalização. Tomar o todo pela parte. Decepcionar-se com uma pessoa e estender esse sentimento a toda uma nacionalidade.Confesso, my friend, que a sua menção aos ingleses como seres 'elegantes, corteses, prestativos e de bom humor' quase teve o poder de me levar à soberba. Unfortunately, nem todos os britânicos são sujeitos de tantas qualidades. Também temos, em nossas ilhas, nossa porcentagem de obesos, prepotentes and so on. Ademais, dear Mario, se a humanidade fosse tão previsível como você faz supor, temo que a vida fosse mais boring (aborrecida).Por fim, você quer saber por que os americanos e os ingleses são tão diferentes. Well, é apenas uma questão de classe…" É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO.ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS

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