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Uma visita à fantástica terra dos hobbits

Por BROOKS BARNES , MICHAEL CIEPLY e WELLINGTON
Atualização:

O morro é perfeito - abrupto, selvagem, verde como um trevo radioativo. As ovelhas parecem seres de uma paisagem idílica: pequenos ruminantes bem educados, só de vez em quando impedem a passagem. O carvalho em cima do morro também é perfeito. Cada folha que tremula é uma obra de arte, precisa até nas veias plásticas, um tributo à meticulosidade de Sir Peter Jackson, diretor que ambientou seu filme aqui, e criou até o lago. Você está em Hobbiton, o parque privado onde os hobbits de pés peludos de J.R.R. Tolkien surgiram, segundo a trilogia O Senhor dos Anéis, e logo voltarão a aparecer na continuação de Jackson, intitulada O Hobbit. Você estará meio zonzo por causa da viagem de duas horas de Auckland pela estrada tortuosa, mas golfadas profundas do ar agreste serão restauradoras. E por mais teimoso e cético que você seja, o lugar provavelmente o enfeitiçará. Para os milhões de fãs que na última década foram ao país em busca das locações de O Senhor dos Anéis, a viagem recomeçará em breve. Só a cidade de Wellington espera mais de 100 mil visitantes amanhã aplaudindo as estrelas que passarão pelo tapete vermelho na estreia de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, o primeiro dos três filmes, com lançamento no Brasil em 14 de dezembro. E, se tudo correr bem, as películas também abrirão as comportas do turismo cinematográfico. Lá atrás. Quando a New Line Cinema lançou o primeiro longa de O Senhor dos Anéis, em 2001, profissionais do turismo esperavam que o filme contribuísse para que a Nova Zelândia subisse um ou dois lugares na classificação dos principais destinos do mundo. Mas Jackson passou o trator sobre metade da sua aldeia hobbit no fim das filmagens. Portanto, quem em sã consciência dirigiria horas pelo interior para vê-la? Mas as pessoas vieram. Cerca de 266 mil visitantes já estiveram no que restou da vila, segundo a Tourism New Zealand. O setor de turismo, então pego de surpresa, correu para atender à demanda. Em Queenstown, na Ilha Sul, onde Jackson filmou cenas nas montanhas, 17 empresas começaram a oferecer excursões ligadas ao filme. Hotéis criaram pacotes temáticos e o aeroporto da capital pendurou faixas de "Bem-vindos à Terra Média". O governo espera que, desta vez, um planejamento agressivo facilite a operação. Autoridades locais fecharam acordo com a própria New Line e, ao todo, o país destinou US$ 50 milhões às promoções de turismo ligadas a O Hobbit. Mas a principal atração continua sendo esta fazenda de 485 hectares na cidadezinha sonolenta de Matamata, que parece saída de um conto infantil.Lugar único. Em seu site, Matamata é definida como rural. A descrição é exata. Tem cerca de 6 mil habitantes e ganhou fama em 1998, quando o fazendeiro Russell Alexander viu um estranho de binóculos espiando sua terra. Pouco depois, o xereta e seu chefe barbudo, Jackson, voltaram pedindo autorização para construir ali o cenário de O Senhor dos Anéis. O que Jackson construiu foi um país encantado, com um moinho pequenino e dezenas de casas de hobbits coloridas, com portas circulares e chaminés cobertas de musgo. Quando as filmagens terminaram, o que restou foi um improvável destino turístico, que sobreviveu pois Alexander assumiu os custos de manutenção. "O estúdio de cinema tentou me desencorajar, mas as pessoas não paravam de vir", disse. Ele, então, formalizou o negócio, construiu quartos, um restaurante e comprou ônibus para transportar as pessoas pelo set. Dois anos atrás, quando Jackson lá voltou para filmar o novo Hobbit, Alexander fechou com sua produtora uma parceria para que o set restaurado se tornasse permanente. Hobbiton já exibe novas instalações: um bar, mais casas de hobbits, uma cerca para afastar as ovelhas e lojinha que vende objetos para colecionadores endinheirados (mantos mágicos custam US$ 760). Mas um dos principais atrativos de Hobbiton ainda é sua falta de elegância. Nosso guia, a caráter, com dentes naturalmente estragados e botas enlameadas, nos conduziu até o set. Ali, explicou que as casinhas são proporcionais ao tamanho dos hobbits, que teriam cerca de 1 metro de altura. São 44 casas com quintal, cercas e janelas cheias de quinquilharias. Não há hobbits sorridentes acenando com a mão, porém, vimos trabalhadores preparando o local para a chegada das multidões, aparando cercas e construindo um bar temático. Perto do topo da colina, as folhas de pano da árvore fictícia de Jackson flutuavam na brisa, e nos sentimos fascinados pela beleza selvagem do vale. Hobbiton e sua fazenda de ovelhas rivalizam em tamanho com o parque temático da Universal Studios de Los Angeles, mas este é um ambiente singular - um espaço vazio, silencioso, onde natureza e arte se misturam. / TRADUÇÃO DE ANA CAPOVILLA

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