A Grã-Bretanha tem me feito companhia na quarentena. Estou bem longe de assimilar os modos da coroa, mas já me sinto órfã de The Crown. Enquanto espero pela próxima temporada da série, me alegrei com o filme Enola Holmes e maratonei os episódios de Bridgerton em uma madrugada dessas.
Parece que não sou a única nessa British vibe: cerca de um mês após o seu lançamento, em 25 de dezembro, Bridgerton já havia chegado a 82 milhões de pessoas, incluindo Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Só no Japão ficou fora dos top 10 da Netflix. A nova temporada deve começar a ser filmada no segundo semestre.
Ainda nessa onda, os livros de Julia Quinn estão entre os best-sellers da lista do jornal The New York Times – mais uma década depois de publicados. Um deles, The Duke and I (O Duque e Eu), ocupa a primeira colocação e está há quatro semanas no ranking.
O romance entre Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor) e o Duque de Hastings (Regé-Jan Page) se passa durante a Regência, período final do reinado de George III, no início do século 19. Pontuada com as fofocas escritas pela misteriosa Lady Whistledown – cuja voz na série é de (ninguém menos que) Julie Andrews –, a história teve muitas cenas gravadas em Bath, para retratar a Londres daquela época.
A preservada arquitetura georgiana, com pórticos e colunas na fachada, aparece em locações como o Royal Crescent. Construções londrinas, no entanto, também serviram de cenário. Bridgerton costura locações em diversas partes da Inglaterra para recompor o clima da corte no período e o estilo de vida da alta sociedade britânica. Locações distintas, a quilômetros de distância, servem para compor alguns dos espaços, caso dos palácios. Quase todas são abertas ao público, com exceções, caso da Lancaster House, em Londres. Em setembro, muitas construções londrinas recebem o público durante o festival Open City.
Enquanto não é possível ir ao Reino Unido por causa da pandemia, a ficção oferece tramas e paisagens para inspirar futuras viagens.
A casa dos Bridgerton
Bem-vindo à mansão dos Bridgerton. Ou pelo menos à fachada. Quem passar pela Ranger's House, em Greenwich (Londres), vai reconhecer a casa da família protagonista da série da Netflix. Na construção de 1723, morou a princesa Augusta, irmã do rei George III. É um dos 400 pontos administrados pelo English Heritage, organização que cuida do patrimônio do país, e hoje expõe obras de arte. Botticelli está entre os nomes presentes na The Wernher Collection, com cerca de 700 peças.
A casa dos Featherington
O impressionante Royal Crescent combina 30 casas e colunas na fachada diante do gramado, ao lado do Victoria Park. Concluída em 1775, a construção abriga o luxuoso The Royal Crescent Hotel & Spa e o Nº 1 Royal Crescent, museu da vida georgiana. Mobiliário e itens da decoração reconstituem o fim dos anos 1700. O endereço virou a casa dos Featherington, outra família influente na série da Netflix. A rua em frente também aparece em cenas ao ar livre, como se fosse a Grosvenor Square.
A Bath da Regência e de Jane Austen
Ruas de paralelepípedos, spa termal, arquitetura georgiana e natureza do interior inglês. A atmosfera de Bath inspirou Jane Austen, que morou na cidade de 1801 a 1806, a escrever A Abadia de Northanger e Persuasão. Agora, a escritora é a motivação para diversas atividades em Bath, que tem um audioguia gratuito para quem quiser seguir os passos da autora. O destino organiza ainda o Festival Jane Austen, com passeio em roupa de época pelas ruas do centro. Neste ano, está previsto de 10 a 19 de setembro. Para vivenciar a era georgiana, o Jane Austen Centre oferece a experiência do legítimo chá inglês.
Declarada Patrimônio Mundial da Humanidade em 1987, a cidade foi fundada por romanos, aproveitando fontes locais. O Thermae Bath Spa, único spa termal natural da Grã-Bretanha, funciona com piscina coberta e outra no rooftop ao ar livre, diante do centro histórico. Fica na Bath Street, uma das mais preservadas e, por isso, muito usada em produções, por exemplo, em Bridgerton e na filmagem de Persuasão para a televisão em 2007.
O clube de Anthony e do duque
Fundado em 1832, The Reform Club já teve Winston Churchill entre os sócios. O prédio no centro de Londres, com salões imponentes, não é novato nas telas. Fãs de James Bond, por exemplo, devem lembrar de ver em Um Novo Dia para Morrer (2002) e 007 - Quantum of Solace (2008). Na série, ali ocorrem os diálogos entre Anthony Bridgerton (Jonathan Bailey) e o duque no clube. Na vida real, tem café, restaurantes e bar.
O palácio da rainha Charlotte
Henrique VIII morou no Hampton Court Palace, em Richmond – o Privy Garden era seu jardim favorito. Ao lado do Kensington Palace e da Torre de Londres, a construção faz parte do conjunto de Historic Royal Palaces. Nos episódios de Bridgerton, o palácio dá forma ao exterior da residência da rainha Charlotte (Golda Rosheuvel).
Já as debutantes são levadas à rainha em tomadas feitas na Wilton House. Casa do conde e a condessa de Pembroke há 400 anos, a construção do século 18 em Salisbury também foi usada em The Crown. O salão e a escadarias da Lancaster House, em Westminster (Londres), também aparecem em tomadas internas.
A chegada ao baile de Lady Danbury
Fique atento à compostura. Diante do Museu Holburne, em Bath, você vai se lembrar de um baile de Lady Danbury. Localizado na Great Pulteney Street, o lugar abriga a coleção da família, com 10 mil peças como porcelana e prata. Uma curiosidade: Thomas William Holburne, que começou a coleção, entrou para a Marinha britânica em 1805 e esteve no Brasil no início do século 19.
A área pobre dos treinos de boxe
As Royal Dockyards tiveram um papel importante na história britânica. Com ruas de paralelepípedos, a Historic Dockyard Chatham, em Kent, aparece na série da Netflix como a parte pobre de Londres, onde Lady Featherington (Polly Walker) leva Marina Thompson (Ruby Barker) e também onde o duque treina boxe.
Os salões luxuosos das festas
As Assembly Rooms e a sala de banquetes do Guildhall ambientaram bailes na série. Administrados pela Bath’s Historic Venues, os espaços são alugados para eventos. As Assembly Rooms podem ser visitadas com hora marcada. No endereço, também fica o Museu da Moda, com exposições que mostram a evolução das roupas ao longo da história.
O lugar do baile depois do acordo
Este parque em Buckinghamshire recebeu o baile ao ar livre, em que Daphne e o duque causaram frisson na alta sociedade, dançando após selarem um pacto. O Templo de Vênus aparece ao fundo na cena gravada no Stowe Park. Representa os londrinos Jardins de Vauxhall Pleasure Gardens.
O parque do piquenique da elite
Primrose Hill na série não fica em Londres, mas em Surrey. O belo Painshill Park é o cenário dos piqueniques da alta sociedade em Bridgerton. Para visitar, é preciso comprar ingressos antecipadamente.
O castelo do Duque de Hastings
A casa do Duque de Hastings é o Castelo Clyvedon. Para retratar o exterior, foi usado o Castelo Howard, perto da cidade de York. A propriedade foi concluída no início do século 19, cem anos após começada. Há tours sobre história e arquitetura; é preciso reservar. O vilarejo que o casal visita na série é Coneysthorpe, em North Yorkshire. Com alas simétricas, a propriedade foi concluída no início do século 19, cem anos depois de iniciada.
A loja de Madame Delacroix
As provas de vestido na boutique de Madame Delacroix (Kathryn Drysdale) dão alfinetadas ao enredo de Bridgerton. A Abbey Deli, loja antes chamada Pickled Greens, representa a fachada da Modiste na série. Fica em Abbey Green, atrás das termas romanas de Bath e de cafeterias como Mrs Potts Chocolate House e Hands Georgian Tearooms. Outra parte de Abbey Green também foi usada para representar Covent Garden, em Londres.
Aliás, de tanto tea time para segurar a onda na quarentena, aprendi como fazer o chá perfeito com Stephen Twinings, representante da 10ª geração da família dona da renomada marca inglesa de chá. No meio de 2020, participei de um tour virtual com ele, que toma de 10 a 15 xícaras de chá por dia (dá para acreditar?!).
A estreita loja de Londres, no número 216 da Strand Street, foi reformada no ano passado e tem uma área para degustações e aulas. É considerada a primeira casa de chás secos do mundo, aberta 11 anos depois da fundação da empresa, que compra folhas e cria misturas desde 1706. Hoje seus blends estão em 115 países, porém ela segue como a fornecedora oficial da família real britânica, direito concedido pela rainha Vitória, em 1837. Vitória era neta do George III, rei à época da história de Bridgerton.