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Volta ao mundo com o melhor da comida de rua

Mais que lanches rápidos, as populares barraquinhas revelam ingredientes típicos, hábitos alimentares e até culturais de uma região. A maneira mais saborosa (ou nem tanto) de desbravar um destino

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Por Redação
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Yue Dan, Hong Kong

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Basta começar a entardecer para as barraquinhas do centro de Hong Kong ficarem lotadas de famintos em busca de um petisco rápido. Em Mongkok, uma importante área do centro comercial, há inúmeras, que oferecem espetos de lula, beringela à milanesa e o campeão de popularidade local: o yue dan. Ou, literalmente, bolinha de peixe - basta pedir, em inglês, um fish ball, e o atendente servirá, no espeto ou em uma tigelinha de isopor. Quase como um kani cozido: o pescado é prensado tão hermeticamente que ganha textura semelhante à de borracha. Depois, já em formato de bolinhas, vai para a água fervente. Há duas versões: pura ou com curry - apimentadíssima, como eles gostam. Quanto ao gosto... bem, decididamente, não é ruim. E só.

Choripán, Argentina

Nas ruas de Buenos Aires, o hot-dog americano possui uma versão particular: o choripán, ou chorizo (linguiça) e pão. O crocante pão francês com o suculento - e costumeiramente oleoso - chorizo é a pièce de résistance de todo comício político, estádio de futebol e manifestação popular argentina. No meio da crise financeira e econômica de 2001 e 2002, quando o país estava em plena turbulência social, grupos nacionalistas de esquerda gritavam na frente de lojas do McDonald"s e do Burger King, "Choripán sim, hambúrgueres não!".

O choripán costuma vir acompanhado de outro ícone, o chimichurri. Um tipo de molho composto de orégano, salsinha, cebola, alho, pimenta, páprica e azeite de oliva, que os argentinos costumam derramar sobre diversas carnes. O equivalente ao queijo ralado em uma macarronada.

O chimichurri teria sido inventado em meados do século 19 no meio das campanhas militares argentinas que gradualmente conquistaram a parte meridional dos Pampas e da Patagônia. O autor teria sido o irlandês Jimmy McCurry, que marchava com as tropas. Com o tempo, o nome do inventor se transformaria na corruptela "chimichurri".

No entanto, há quem diga que o tal molho seja uma derivação do pesto genovês. O nome seria proveniente do basco tximitxurri, o equivalente a "uma misturada de muitas coisas".

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Buuz, Mongólia

Não costumava ser assim. Com a crescente ocidentalização dos costumes, a Mongólia tem assimilado o hábito das refeições ligeiras. Ainda não faz sentido falar em explosão da fast-food, mas, para quem circula pelas ruas da capital, Ulan Bator, fica evidente que o buuz, trouxinha de massa recheada de carne de carneiro e cozida no vapor, semelhante no formato e no conceito à japonesa guioza, se tornou o principal petisco rápido local.

O buuz costuma ser servido como entrada nos (poucos) restaurantes elegantes da capital, como o Black Pearl. E também pode ser provado nas cada vez mais frequentes portinhas dedicadas a comida rápida que não param de se multiplicar pelas calçadas, como Zochin Buuz e Khan Buuz. Os três estabelecimentos ficam na Peace Avenue, a mais importante do centro da cidade. Algumas receitas já incluem temperos, como cebola, no recheio do bolinho. Outro hábito nada típico da mesa mongol.

Chivito, Uruguai  

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Além da famigerada empanada, o Uruguai conta com outra iguaria popular: o chivito. A tradução literal seria "bodinho", mas não se trata de carne de bode, e sim de um monumental sanduíche de carne bovina na grelha, presunto, lombo defumado, lombo comum, bacon e mussarela. E não é só: maionese, alface, tomate, ovo cozido e pimentão (geralmente, ao escabeche) também acompanham. Para evitar que essa gastronômica arquitetura desmonte como um edifício em um terremoto de 9 pontos na escala Richter, o cozinheiro coloca um palito, com uma singela azeitona na ponta. O prato é tão popular que ganhou versões arrumadinhas nos restaurantes. Em Montevidéu, por exemplo, o Chivitos Guga anuncia o prato junto com o nome da casa - e ficou famoso por isso. Würst, Alemanha Um típico prato alemão em um restaurante de Berlim pode vir com até cinco variedades de salsichas acomodadas sobre uma camada farta de repolho em conserva, o chucrute. Saborear as würsts, no entanto, tem muito mais graça nas dúzias de barracas de rua da capital. Por que? Basicamente, pela liberdade de obedecer apenas aos apelos do estômago, sem preocupação com horários fixos de almoço e jantar. E também pelo preço: comer salsicha na rua sai por cerca de um terço do valor do prato em um estabelecimento simples. As barraquinhas berlinenses atendem em ritmo de fast-food. E de festa, para turistas que adoram interagir com moradores e outros viajantes. As filas para fazer o pedido e pagar e para pegar os quitutes costumam ser higienicamente distintas. Come-se em pé ao redor de mesas altas e coletivas. Não há cardápios em inglês porque, para os berlinenses, würsts são würsts - seria como esperar que um restaurante baiano escrevesse acarajé em outro idioma. Um rápido glossário: bockwürst é a salsicha de vitela; bratwürst, a de porco; wienerwürst, a de Viena, seja lá o que isso signifique; e a mais popular, a currywürst, salpicada, como o nome diz, com curry. Bem na saída da Estação Mehringdamm, na linha U7 do metrô, a barraca Curry 36 tem a melhor salsicha com curry da cidade, garantem os berlinenses. Custa cerca de ? 5 (R$ 12) o combo com catchup, batata frita, pãozinho quente e refrigerante ou suco de garrafinha.

Scotch Egg, Inglaterra

Verdade seja dita. O quitute de rua mais famoso do Reino Unido não é o fish and chips (peixe com batatas fritas) e nem mesmo as tradicionais shepherd"s pies. Quem domina mesmo as ruas da capital inglesa é o famigerado kebab. Mas, quando a tarefa é provar que Londres é muito mais que fish and chips, mashed e baked potatoes, o Broadway Market (www.broadwaymarket.co.uk) é o destino certo. Point do descolado East End, trata-se do mercado de rua mais badalado do sábado londrino. Se a feirinha de Portobello Road (ou Notting Hill) e o Borough Market já entraram para a lista de pontos turísticos imperdíveis e óbvios da cidade, o Broadway Market ainda é reduto de londrinos. Muito por conta da clientela, o tal mercado é fonte certa de quitutes e produtos tipicamente ingleses. Assim como no Borough Market, lá é possível encontrar crepes franceses, queijos italianos, cafés do Vietnã e o tradicionalíssimo scotch egg. Nunca ouviu falar? Assim como explicou a moradora Misses Charlotte, a iguaria nada mais é que um bolinho de ovo cozido. Falando assim não parece muito saboroso, mas vale dizer que não se trata de um bolinho qualquer. Pense em um croquete incrementado, muito calórico e nada politicamente correto. A receita básica: carne de porco moída, sal, salsinha, pimenta e canela para temperar, ovo cozido, farinha de rosca e muito óleo. O ovo é envolvido com a mistura da carne moída temperada com as ervas. E este bolinho (ou melhor, bolão - o Scotch Egg é imenso!) é, em seguida, frito à milanesa. Quem quiser aprender a preparar o quitute em casa pode procurar o vídeo no YouTube: How to make Scotch Eggs (www.youtube.com/watch?v=xP6xbbrENAs ).

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 Takoyaki, Japão

Em um dos bairros mais turísticos de Tóquio, o Asakusa, que recebe grandes festividades locais e até cede sua avenida para o maior carnaval fora do Brasil no mês de agosto, a barraquinha do bolinho frito de polvo, o takoyaki, faz sucesso. Crocante por fora e macio por dentro, o gosto especial do takoyaki fica a cargo do recheio: polvo cozido, gengibre vermelho em conserva, cebolinha e outros vegetais. A massa relativamente simples de farinha, água, ovos e caldo básico japonês (dashi) dá o contraste. O toque final fica por conta de um molho à base de soja feito especialmente para a delícia, além de cobertura de alga verde (nori) e raspas de bonito ralado (katsuo). Devidamente alimentado com uma bandejinha de takoyaki (10 bolinhos por cerca de 500 ienes ou R$ 10), circule pelas barracas de lembrancinhas, que vendem desde chaveiros a quimonos de seda. Se preferir, aproveite para pedir a sobremesa: doces tradicionais do Japão ou biscoitos em forma de Pikachu ou de outro desenho animado da moda. Funciona das 9 às 19 horas. P.M.

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Buñuelo, Espanha

É inevitável. Durante todo o mês de março a paella perde seu posto de rainha no cenário gastronômico da espanhola Valência. Com a chegada das Fallas, a festa mais tradicional da cidade, os olhos famintos se voltam aos petiscos de rua que invadem toda e qualquer esquina. Se você está de regime, mantenha-se longe das barracas. As delícias que elas vendem são todas fritas. A iguaria de maior sucesso é o buñuelo, que tem a forma de um anel (o buraco no meio é sua marca registrada) e massa feita de abóbora. Assim como o nosso bolinho de chuva, fica ainda mais irresistível depois de passado no açúcar. O saquinho com meia dúzia custa cerca de 3 (R$ 7). Atrás dele na concorrência está a porra valenciana. Apesar do nome esquisito, ela conquista fácil, fácil os fanáticos por churros. A grande diferença é que a versão espanhola é servida sem recheio. Mas o sabor da abóbora - novamente ingrediente principal - e a combinação de açúcar e canela polvilhados por cima suprem com maestria essa ausência. O produto fica disposto na barraca todo enrolado e você leva apenas um pedaço dele, por cerca de 2 (R$ 5). Se sua passagem por Valência não coincidir com o período das Fallas, não se preocupe. Você ainda terá a chance de encontrar barraquinhas em algumas esquinas ou ainda achar as iguarias em padarias. Para a experiência gastronômica ser completa, peça um chocolate quente como acompanhamento. É assim que os moradores fazem.

 

Espetinhos, China  

"Espetinho de bicho da seda por apenas 6 yuan! De testículo de bode por 15 yuan!", anunciam animadamente os vendedores do Mercado Noturno de Wangfujing, em Pequim. Essas barganhas de cerca de R$ 1,70 e R$ 4,00 são expostas ao ar livre, a partir das 17h30, em dezenas de barracas próximas a lojas de alto padrão, livrarias e shoppings centers numa das ruas comerciais mais famosas da capital chinesa.

O cheiro, digamos, diferente denuncia que as iguarias a serem fritas na hora não param por aí: tem espetinho de cobra, barata, escorpião, cavalo marinho, estrela do mar, lula, siri... sabores para os mais variados níveis de coragem do cliente. Os vegetarianos não ficam de fora e podem encarar iguarias como espetinhos de cogumelos, de algas variadas, raiz de lótus, entre outros. Tem até de brócolis, mas aí não tem graça, né?  

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Kürtskalács, Hungria"Agora você vai provar a delícia mais autêntica da Hungria, o kürtskalács", disse o amigo húngaro no alto da colina que abriga a maior atração de Budapeste, o Castelo de Buda. Kurtos quê? A palavra, como quase todo o vocabulário húngaro, parecia impronunciável. E o receio de o sabor ser tão diferente quando o idioma não foi pequeno. Mas o cheiro de canela e baunilha que tomava conta da área ao redor da barraquinha foi mais poderoso que qualquer preconceito gastronômico. Pense em um pão doce de primeira linha caprichosamente "temperado" com baunilha, chocolate, canela... servido quentinho como nosso pão de queijo. Este é o kürtskalács, ou, ao pé da letra, bolo chaminé. Para prepará-lo, a massa é separada em tiras, como o nhoque. Em seguida, cada parte é enrolada em uma espécie de pau de macarrão, que vai ao forno. Ao sair, esfumaçando, ganha uma fina camada de manteiga. O quitute nasceu há séculos na Transilvânia, quando a região, hoje romena, integrava o império austro-húngaro. Com o tempo, ganhou as esquinas de Budapeste. F.G.

  Elenco turístico na tela do cinema MAIS NO BLOG DO VIAGEMDicas da chef Flávia Quaresma para escolher seu quitute de rua e uma seleção de petiscos nacionais no blogs.estadao.com.br/viagem

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