Com um pouco de abstração, Jakob Wolters parece, ele mesmo, uma obra da Bauhaus. Dois palmos mais alto que todos nós (vertical como janelas de Otto Haesler), cabeça aloirada raspada à máquina bem rente (minimalismo), calça jeans e casaco verde reto (sem ornamentos), o aluno de pós-graduação da Universidade Bauhaus em Weimar nos conduziu no tour pela primeira sede da escola.
A Bauhaus abriu oficialmente em 1.º de abril de 1919 com um programa de ensino ousado para sua época. Incorporava o utilitarismo do movimento Neues Bauen. Valorizava as necessidades humanas – as da vida prática – em primeiro plano. Rejeitava os ornamentos, a estética rebuscada da burguesia. Colocava lado a lado em importância a sensibilidade do artista e a habilidade realizadora do artesão.
Walter Gropius (1883-1969) criou a Bauhaus como evolução da escola de artes que ocupava o prédio art nouveau onde começava o nosso tour. No esplêndido hall, uma escadaria em espiral, vista de baixo para cima, ilustra a ideia da linha contínua característica da Bauhaus. A escultura Eva, de Auguste Rodin, me remeteu à ideia da união entre criação e técnica. Também há bustos de Gropius e do designer belga Henry Van de Velde, um dos pioneiros do estilo art nouveau.
Van de Velde (1863-1957) foi professor da Escola de Artes Aplicadas, que precedeu a Bauhaus. Morou em Weimar entre 1902 e 1915, em uma casa de sua própria autoria, arquitetura e decoração. Fica a 2 quilômetros do centro histórico; o jeito mais gostoso de ir até lá é caminhando por dentro do Parque am der Ilm. Os móveis hoje vistos na Casa Hohe Pappeln (“álamos altos”) são réplicas: a família levou os originais na mudança para Suíça. Em uma hora dá para ver a mobília art nouveau, a biblioteca e os jardins.
Visitamos a casa no segundo dia. No primeiro, o tour pela universidade, idealizado por alunos (12 euros ou R$ 50) nos levou ainda ao escritório de Gropius, que dirigiu a Bauhaus de sua criação até 1928. Há aqui réplicas de móveis originais, e a respeito deles, o guia Jakob lembrou uma fala do próprio Gropius: “Cuidado com reconstruções, elas costumam ser perfeitas como os originais nunca foram”.
Boas falas de outros expoentes da Bauhaus são lembradas, junto com móveis e maquetes, no recém inaugurado Museu Bauhaus (11 euros ou R$ 46). São quatro andares com originais e réplicas. Faça a visita de baixo para cima; no fim, a descida do ponto mais alto do museu até o térreo é feita por uma dramática escada contínua, em linha reta. Causa vertigem: precisei e vi muita gente precisar do apoio do corrimão para completar a descida.
Frequentadores ilustres e a primeira Constituição
A 1 hora de trem ou 130 quilômetros de carro de Leipzig, Weimar é um highlight do turismo alemão. Durante o século 18, a cidade viveu sob a regência da duquesa Anna Amalia e de seu filho Carl August, que decidiram enchê-la de artistas e intelectuais. Atraíram gente como o poeta Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e o escritor Friedrich Schiller (1759-1805); antes, Weimar tinha sido lar de Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Todo esse pessoal é lembrado em suas próprias casas-museus, em estátuas e nomes de logradouros pelo centro histórico. Weimar tem 14 sítios designados como patrimônios da Unesco.
A cidade foi o berço da primeira Constituição do império alemão, promulgada no mesmo 1919 em que se criou a Bauhaus. A assinatura do documento ocorreu no Teatro Nacional de Weimar, um dos destaques do centro histórico, e deu início ao período conhecido como República de Weimar. Como a Bauhaus, durou até 1933; também como a Bauhaus, foi abatida pelo nazismo.
Antes disso, em 1923, a exposição de múltiplas formas de arte organizada pela Bauhaus escandalizou a sociedade de Weimar, que passou a gostar cada vez menos da presença da escola na cidade. Em 1925, a escola mudou para Dessau, em um prédio projetado por Gropius segundo os cânones da escola.
O que mais ver em Weimar
Casa de Goethe
A casa onde o poeta Johann Wolfgang von Goethe viveu por mais de 50 anos, transformada em museu, é inegavelmente a principal atração turística de Weimar. Seus cômodos com muita mobília original preservada narram partes da história do período em que a cidade foi comandada pela duquesa Anna Amalia (1739-1807) e seu filho Carl August (1757-1828), regentes que se empenharam em trazer para a cidade intelectuais da época. Biblioteca Anna Amalia
Foi dirigida por Goethe durante 35 anos e devastada por um incêndio em 2004. O prédio histórico foi restaurado - o hall em estilo rococó faz parte do conjunto de patrimônios da Unesco da Weimar Clássica. Hoje, é uma das mais bela bibliotecas do mundo. Weimar Clássica
Além das casas de Goethe e de Friedrich Schiller (1759-1805) e da Biblioteca Anna Amalia, outros lugares e edifícios fazem parte do complexo Weimar Clássica, que tem um total de 12 endereços inscritos entre os patrimônios da Unesco em 1998.
Parque am der Ilm
A magnífica área verde é da leva das melhorias culturais e de estilo de vida do século 18 em Weimar. Fica ao lado do centro histórico e abriga quilômetros de trilhas entre os jardins majoritariamente de estilo inglês, além de casas históricas - inclusive uma casa de campo de Goethe. Ah, sim: está na lista da Unesco também.