No Chile, um roteiro nos passos de Pablo Neruda

Em Santiago, Valparaíso e na Isla Negra, repórter visitou as casas de Pablo Neruda e descobriu, em meio ao legado do escritor, a poesia nas paisagens, na hospitalidade e nas taças de vinho

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Por Edison Veiga
Atualização:
Casa de Pablo Neruda em Isla Negra, onde estão sepultados os corpos do poeta e de sua última mulher, Matilde Urrutia. Foto: Eliseo Fernandez/Reuters

“O outono não parece esperar/ que alguma coisa aconteça?”, “Por que os imensos aviões/ não passeiam com seus filhos?” Botei sete dias e o Livro das Perguntas na mochila e embarquei atrás das respostas no Chile de Pablo Neruda (1904-1973). 

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Entre taças de vinho, cores da natureza e cores de artistas, orlas do Pacífico e gentilezas, a poesia de Neruda existe vívida, pode ser respirada. A ponto de querer – o turista forasteiro e, quiçá, o cidadão chileno também – prorrogar ao máximo o fugaz tempo. “Por que a quinta-feira/ não aceita vir depois da sexta?”, “Por que não nos deram extensos/ meses que durassem todo o ano?”

“Há coisa mais boba na vida/ do que chamar-se Pablo Neruda?”, pensava diuturnamente. A viagem, o roteiro e os cenários, posso até contar aqui. O vivenciado é aquele segredo que une cada viajante a todo poeta: é preciso sentir para saber. 

Há coisa mais boba na vida do que chamar-se Pablo Neruda?

Pablo Neruda, poeta chileno

Casas. São três as residências do poeta que, convertidas em museus, são administradas pela Fundação Pablo Neruda. Os tíquetes de entrada custam 7.000 pesos (R$ 34) por pessoa em cada uma delas – inclui audioguia, disponível também em português. As casas funcionam de terça-feira a domingo. Não é possível comprar ingressos antecipadamente, mas em nenhuma de minhas visitas precisei esperar mais do que cinco minutos na fila. 

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A primeira que conheci foi a de Valparaíso. Neruda dizia estar cansado de Santiago e buscava “uma casinha para viver e escrever tranquilo”. “Não pode estar nem muito acima, nem muito abaixo, deve ser solitária, mas não é em excesso. Vizinhos, oxalá invisíveis. Não devem ser vistos nem escutados”, exigia ele. Duas amigas encontraram uma construção que parecia perfeita, obra inacabada do arquiteto espanhol Sebastián Collado – por isso, Neruda batizaria a casa de La Sebastiana. A casa foi comprada em 1959, concluída e inaugurada em 1961 com uma festa memorável.

No mesmo dia, fui até a casa de Isla Negra. O bucólico local, às margens do Pacífico, foi encontrado pelo poeta em 1937, quando ele buscava um lugar para se dedicar à sua obra Canto Geral. Era uma pequena cabana de pedra, de um marinheiro espanhol chamado Eladio Sobrinho. Neruda a comprou no ano seguinte. Em 1943, contratou um arquiteto catalão, Germán Rodriguez Arias, para realizar a primeira de uma série de ampliações. Nos anos 1960, mais obras. “A casa foi crescendo, como a gente, com as árvores...”, comentaria ele, mais tarde.

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Dois dias depois, em Santiago, conheci a La Chascona – algo como “a despenteada” –, batizada assim em homenagem a sua terceira e última mulher, Matilde Urrutia (1912-1985). A casa começou a ser construída em 1953, quando o romance entre ambos era secreto. Encarregou-se da obra o mesmo catalão Arias, da casa de Isla Negra. Apenas em 1955, Neruda se separou de Delia del Carril e passou a morar com Matilde. 

Como ir:  - Aéreo: voo São Paulo– Santiago–São Paulo desde R$ 819 na Latam (latam.com/pt_br) e R$ 864 na Aerolíneas (aerolineas.com.ar/pt-br). - Ônibus: a Tur Bus opera ônibus entre Santiago, Valparaíso e Isla Negra, entre 3 mil e 5 mil pesos (R$ 14 a R$ 25) por trecho: horariodebuses.cl/tur-bus.html.

Curiosidades: -O livro O carteiro e o poeta, ficção do chileno Antonio Skármeta, conta a história da amizade entre Neruda e Mario Jiménez, seu carteiro em Isla Negra. A versão para o cinema, dirigida por Michael Radford, é ambientada na Itália. - Neruda gostava de receber amigos. Suas casas contavam com bares completos. Apreciador de brincadeiras, tinha um saleiro e um pimenteiro com as inscrições de "morfina" e "maconha". Réplicas estão à venda nas lojinhas das casas-museu.

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